Chegadas & Partidas

Uma das coisas que mais tem me chamado a atenção, e faz tempo que queria escrever a respeito, é a emoção das chegadas e partidas estampada nos rostos das pessoas em aeroportos, nas estações de trem, ou em qualquer lugar em que haja encontros e despedidas.

Acredito que estes sejam os lugares com o maior nível de emoção e adrenalina, onde as batidas do coração tomam uma proporção e velocidade não comuns no dia-a-dia. É claro que não quero comparar aqui a emoção do nascimento de um filho, dia do casamento, formatura dos filhos, ou perda de um ente querido….quero falar sobre outro patamar de emoção…

Partidas e chegadas são momentos onde o ser humano expõe e até extrapola toda sua emoção: alegria, tristeza, amor, pesar, saudade


Desembarque feliz da amiga Serena voltando para casa com sua mala amarela.

E falando em saudade, esta é uma palavra cujo significado só nós brasileiros (e portugueses) conhecemos em sua profundidade:
“Na gramática, saudade é substantivo abstrato, tão abstrato que só existe na língua portuguesa. Os outros idiomas têm dificuldade em traduzi-la ou atribuir-lhe um significado preciso: Te extraño (castelhano), Je regret (francês) e Ich vermisse dish (alemão). No inglês têm-se várias tentativas: homesickness (equivalente a saudade de casa ou do país natal), longing e to miss (sentir falta de uma pessoa), e nostalgia (nostalgia do passado, da infância). Mas todas essas expressões estrangeiras não definem o sentimento luso-brasileiro de saudade. São apenas tentativas de determinar esse sentimento que sentem os povos de cultura portuguesa. Assim, a palavra saudade não é apenas um obstáculo ou uma incompatibilidade da linguagem, mas é principalmente uma característica cultural daqueles que falam a língua portuguesa.” *

Palavra intensa, absoluta, cheia de significado, cheia de emoção, cheia de bons sentimentos e que é retratada e vivida com intensidade nos aeroportos e estações.

Não tem nada mais prazeroso do que ver o brilho nos olhos, o sorriso escancarado de quem está à
espera, no desembarque de um grande amor, um amigo querido, um pai, mãe, irmão, irmã, filho…
A espera pode ser de anos, meses, dias ou até mesmo horas…afinal o tempo real é o que menos interessa nestes casos, o tempo afetivo é subjetivo: vale o tempo do coração, da urgência, da saudade… Não dá para descrever mas dá para sentir a emoção que faz o nosso coração sorrir também por constatar a felicidade do outro…..

E por estas coincidências da vida, ou talvez nem tanto, em uma dessas viagens ganhei de um colega
de trabalho um livro do reconhecido escritor Uruguayo Mario Benedetti entitulado “Adioses y bienvenidas”, que tem tudo a ver com este tema…lindos poemas que dão a dimensão deste sentimento.


Lindos poemas de Mário Benedetti. Recomendo!

Incrível e delicioso constatar que apesar de toda evolução da tecnologia, das câmeras de vídeo cada vez mais avançadas, do whatsapp acessível a qualquer um…. Nada, nada substitui o abraço, o beijo, o aperto de mão real. Não há melhor lugar no mundo do que dentro de um abraço e os momentos de partida e chegada talvez sejam os responsáveis pelo maior número de abraços do mundo… Uma energia sem igual! Uma energia renovadora!

O mais interessante das chegadas e partidas para mim é que traduz a essência da vida, esta repleta de grandes Chegadas e grandes Partidas. O melhor mesmo a fazer é sempre aproveitar o caminho sabendo que muitos partirão e muitos chegarão…. Esta é a grande essência: Aproveitemos ao máximo o caminho!

E sigo constatando esta verdade simples e absoluta pelos aeroportos e estaçôes espalhados por aí.

E o meu olhar de estrangeira em qualquer Chegada ou Partida estará sempre impregnado de saudades….


Saudade é o Amor….

* Extraído do texto O mito da palavra Saudade publicado em 28/05/14