Consciência Tecnológica

É fantástico ver como a Tecnologia mudou, está e continuará mudando nossas vidas pra melhor.
Imaginar que minha geração foi uma das primeiras adeptas do computador e isto nem foi há tanto
tempo assim (ou talvez eu esteja relutante em envelhecer) e que as novas gerações, principalmente
os denominados millennials e os da geração Z não conhecem uma máquina de datilografar – eu fiz
curso de datilografia e por consequência até hoje uso quase todos os dedos para digitar, o que para
meus sobrinhos parece no mínimo estranho. Sem contar o celular, que veio bem depois (e hoje quem
ousa passar algumas poucas horas sem ele?), assim como todas as outras tecnologias que hoje são
parte integrantes da nossa vida e que há 15, 20 anos seriam impensáveis.
E parece ser apenas o começo: lembro-me bem que quando era adolescente, uma tia muito querida
disse à mim e a uma prima que deveríamos fazer alguns cursos para aprender a lidar com o tal do
computador, porque nosso curso de datilografia (caro e demorado) não seria de mais valia como em
sua época. Pois é, alguns anos se passaram e um dia outra tia um pouco mais jovem e antenada nos
disse que a má notícia era, que na verdade, não seria mais suficiente saber lidar com o tal do
computador e que este tal iria nos substituir em quase tudo, que faria todo (ou quase) o trabalho
que até aquele momento fazíamos nós. Isto parecia quase uma hipocrisia….

É o que constato todos os dias é que não somente a minha tia como muitos atores de Hollywood,
não necessariamente nesta ordem, estavam mais que certos…Sim! A tecnologia está transformando
tudo.

E agora temos a IA (Inteligência Artificial), um dos termos mais comentados atualmente. Além de
todas as atividades onde pessoas já foram substituídas por máquinas, especialmente nas áreas de
produção e com avanços surpreendentes em outras, computadores dotados de Inteligência Artificial
também serão capazes de prever nossos comportamentos e reações emocionais; fala-se já de que
em poucos anos a IA fará com que os computadores pensem como os seres humanos.

Um dia destes uma amiga me falou da “ Bina48”.

Você conhece a Bina48? Como não? Convide-a pra ser sua amiga no Facebook e você irá se
surpreender!

Bina não é um ser humano (talvez seu criador não concordaria comigo). É um robô, dotado de IA. Foi
criado para testar a hipótese de fazer um download da consciência de um humano em um robô. A
esposa (humana) do seu criador descarregou o seu histórico de vida neste computador: desde as
lembranças mais remotas de sua infância, suas memórias, sentimentos e crenças e, baseado nisto,
seu criador acredita que este robô será capaz de interagir com humanos e ter os seus impulsos. O
objetivo é que a Bina48 seja a continuidade da vida de sua esposa, que ela continuará aqui através
da Bina48… (Eternidade?).

Mas as emoções humanas são uma discussão elevada a outro patamar. Eu particularmente não
acredito que a tecnologia seja capaz de emular, igualar as emoções humanas: empatia, resiliência,
influência, inteligência emocional, nossa humanidade!

E, se estou certa em minha premissa, aqui temos um desafio: esta geração, que nasceu 100% digital,
desenvolveu formas diferentes de conexão. O contato, o relacionamento são digitais, o que apesar
de não apresentar nenhum mal aparente, fazem com que o encontro “face to face”, o contato “olho
no olho” percam sua relevância. O mundo digital criou uma nova forma de relacionamento: mais
distante, menos perceptivo, mais prático, mais frio. Pesquisas indicam que esta geração está se
tornando menos empática, menos aberta a entender a perspectiva do outro(*).

Você já ouviu depoimentos em que a família se comunica por WhatsApp, mesmo estando todos
dentro da mesma casa? Eu já, vários. E estou certa que isto não facilita em nada a geração de
empatia, de proximidade, de entendimento das necessidades do outro. Ironicamente, em um mundo
muito conectado, estamos perdendo a conexão.

E se estas habilidades forem as mais relevantes para os humanos no futuro, uma vez que os
computadores farão todo o restante, como serão exercidas? A digitalização está fazendo com que
percamos contato com estas habilidades que a meu ver são as que diferenciam os seres humanos
dos robôs.

A boa notícia é que já existem algumas grandes instituições preocupadas com este tema: o MIT por
exemplo, reconhecido globalmente por formar os melhores profisssionais em Tecnologia, está
preocupado com o desenvolvimento além das habilidades técnicas, seus profissionais estão
preocupados em aperfeiçoar a Inteligência Emocional. Tem uma disciplina justamente focada em
estimular o desenvolvimento desta habilidade. Dificilmente pensaríamos no passado que esta
poderia ser uma disciplina relevante para um Instituto como este.

Isto me faz pensar que por mais debates que hajam, ninguém tem certeza do que acontecerá. Porém
haverão habilidades que independente de todas as evoluções / revoluções / e incríveis descobertas
são e continuarão sendo imprescindíveis para a sobrevivência humana.

 

A Empatia, a resiliência, a imaginação e criatividade são habilidades mais do que nunca, Urgentes…
Você já parou pra pensar que talvez parte do que estamos presenciando todos os dias em pequena
e grande escala, desde os ataques terroristas até o bullying em vários ambientes, passando pela
competitividade desenfreada que está adoecendo muitos em todo o mundo, não seria pelo menos
minimizada ou melhor resolvida se todos estivessem mais abertos a ouvir o outro, a considerar suas
perspectivas, a ter um pouco mais de empatia com o universo ao seu redor? Habilidades estas, que
na minha opinião, nunca sairão de moda e não serão substituídas por nenhum robô.

Que iniciativas concretas como as do MIT sejam cada vez mais valorizadas, que se tornem
obrigatórias e que possamos aproveitar da evolução da Tecnologia para lapidar Seres Humanos
melhores para este mundo que anda um pouco doente, perdido em seus valores…

(*)Pesquisa de Sara Konrath at Michigan University

http://www.nytimes.com/2010/06/27/fashion/27StudiedEmpathy.html?mcubz=1