Quem tem mãe tem tudo, o mito de perséfone e as mães que encontramos pelo caminho

Meu avô Miguel costumava dizer “Quem tem mãe tem tudo!” (ou “quem não tem mãe, não tem nada” dependendo da disposição do momento). Achávamos graça e mal sabia eu, que no decorrer da vida, me lembraria muitas vezes dessa frase.
Minha mãe, Lilla, filha do Miguel, nasceu predestinada a ser mãe: filha mais velha de sete irmãos, cuidava dos mais novos. Aprendeu cedo a cuidar de bebês, cozinhar, tricotar, agasalhar, costurar, remendar, tratar de doenças, fazer massagem nos pés. E nós, seus três filhos, usufrúimos desses seus talentos, achando tudo isso normal e assim mesmo. Sendo a única menina, minha mãe aproveitou para exercitar todo o seu lado feminino comigo: com ela aprendi a importância de tratar da pele, passar creme, tirar sempre a maquiagem antes de dormir, a rezar, cozinhar, arrumar a cama, tirar manchas, bater papo na cozinha e passar colarinho de camisa. Coisas que faço até hoje.
Quando embarquei na minha vida multitask de expatriada, mãe, executiva, esposa, amiga, foi meu lado “filha” que me salvou. Minha mãe veio comigo pra Suiça pela primeira vez, depois pro México, depois Brasil, outra vez Suiça e ficou longas temporadas, sempre otimista, corajosa. Me ajudou a seguir adiante, me deu conforto nas frequentes viagens a trabalho cuidando dos meninos, ainda pequenos, muito tranquila e sempre encorajando: “claro que você consegue! Vai, vai…aqui está tudo sob controle. E lá ia eu. Os meninos foram crescendo entre vários países com essa presença constante da avó, que chamam de Baba, ali pra cuidar de tudo e de todos. Achando tudo normal e assim mesmo. Nunca tiveram uma babá. Mas essa Baba amorosa, carinhosa, livre do peso de ser provedora, pra somente ser avó.
Não que seja fácil voltar a morar com a mãe depois que se casa e se monta casa. Aqueles restinhos na geladeira, o pão guardado de ontem pra virar farinha, a privacidade de alguma forma comprometida etc etc, coisas que você jurou se livrar e de repente estão lá de volta, como um bumerangue do destino. Sem contar o marido com a sogra. Mas a vida nos mostrou que essas coisas não são nada perto da convivência, da dedicação, das conversas do dia a dia, do consolo, da ajuda na vida.
Hoje minha mãe se divide, ainda tão cheia de energia, do alto dos seus quase 85 anos, entre sua casa em São Paulo e nossa casa aqui na Suiça.
O que me lembra do mito grego de Perséfone, filha de Deméter, deusa da agricultura e da abundância. Perséfone foi raptada pelo deus do mundo subterrâneo e dos mortos, Hades, para ser sua esposa. Quando ela desapareceu, sua mãe desconsolada deixou a terra sem sementes e sem alimento, que virou um campo árido e sem vida. Os homens, mortos de fome, apelaram aos deuses para que Deméter voltasse a semear a terra. Então Zeus, o deus dos deuses, convenceu Hades a libertar Perséfone para que ela retornasse ao convívio da mãe. Mas Hades, usando de um ardil, deu a ela uma fruta para que comesse antes de voltar à terra. Perséfone não sabia que quem come qualquer coisa no reino de Hades sempre deverá retornar a ele. Então, quando está de volta com a mãe, os campos florecem, os frutos amadurecem e a vida volta abundante sobre a terra. Mas em um terço do ano Perséfone volta ao Hades e Deméter se recolhe de saudades, os campos gelam e a natureza se recolhe.
E com essa história deixo aqui essa homenagem e agradecimento a minha mãe que, quando chega, traz alegria, calor, massagem nos pés e aquele “vai filha, vai sem medo. Aqui está tudo sob controle”. E lá vou eu.

#miranalilian

As Mães que encontramos pelo Caminho

Não vejo a minha mãe há mais de 30 anos… e quem está preparado para isto? Creio que ninguém, mas a vida tem destas brincadeiras…
Mas hoje não quero falar da parte triste desta história, quero falar da parte boa, das surpresas que a vida oferece em cirscunstâncias como esta. Tive a sorte ou a honra de encontrar ao longo deste caminho mulheres fenomenais que ajudaram a aliviar a dor, a falta, o vazio que esta ausência traz.
Estas Mulheres foram sensacionais e sempre apareceram nos momentos certos, com a palavra ou o abraço apertado necessário. Começando pela minha avó materna que fez o papel mais de mãe do que de avó (perdi a parte das avós que são somente avós, esta foi provedora). Mas tive a parte da mãe, como foi para seus treze filhos: ela fez o impossível para cumprir o papel de ser mãe.
Depois vieram as tias, todas muito carinhosas e presentes, sempre agradeço a sorte de ter nascido em uma família grande que também é uma Grande família. E as tias se dividiam, cada uma dando todo o suporte emocional para uma parte da família, a mim ou a meus irmãos. E o fizeram muito bem. Algumas foram tão incríveis que encheram a minha adolescência de alegria e amor, como a minha querida e amada tia Efigênia, que de tia só tinha o nome, foi muito mais que isso, foi uma mãe-tia, tão mãe que todos diziam que fisicamente nos parecíamos muito…
E assim tem sido ao longo da caminho, tenho tido a sorte de encontrar Mulheres-Mães tão especiais, tão expecionais que me sinto abençoada. São muitas e grandes mulheres que tem toda a minha admiração, não consigo citar todas aqui, então algumas serão as representantes. Não poderia deixar de registrar aqui minha Gratidão por tê-las em minha vida:
Laurinha, uma alegria te encontrar e ter o seu ombro e carinho. Mãe de uma grande amiga, que considero como minha também (e que bom que a amiga permite);
Graça, não poderia ter nome mais apropriado. Que Graça de ser humano, que Graça ter te conhecido. Muito obrigada pelo lindo presente que me deu no dia em que nos conhecemos…levo comigo todos os dias;
Lilla, te conhecer nestes ultimos anos renovou minha energia só de apreciar a sua. Que força, que alegria, que positividade com a vida. Aprendo muito com você todas as vezes que tenho o prazer de te encontrar e que bom que a sua querida filha, minha parceria, compartilha esta linda mãe, com Amor.
Meu aprendizado é que a vida sempre tem suas compensações… Mãe é insubstuível… talvez seja o único ser humano nesta terra que o seja, mas quero agradecer às grandes Mulheres que encontrei e certamente encontrarei pelo caminho, que me brindaram com seu amor de Mãe. Afinal de contas Amor de Mãe é como coração de Mãe: sempre guarda um espaço para mais um filho ou filha.