Tem que abrir mão, sim! – 2

 
Lívia Guimarães encabeça hoje a consultoria de marketing Ponto Luz

Fiz escolhas por 42 anos. Aos 43, fui escolhida.

Lívia Guimarães, Livinha pros amigos, além de profissional ultra talentosa, também é uma mulher de decisão e muita  sensibilidade. Ela nunca deixou de mudar de rota quando a vida assim pediu e o coração mandou. Fez escolhas de forma consciente,  sempre em busca da felicidade. Nunca foi óbvia ou conformada, tendo a coragem de abrir mão de coisas importantes, como carreira e status, para ganhar outras que tinham mais significado. E a vida mostrou que valeu a pena !! Inspire-se com a história dela.

Escolha é uma palavra interessante. O dicionário diz muito sobre ela: dilema, possibilidades, eleição, alternativa, predileção, preciosidade.

Vivi todos estes sentimentos nas vezes em que escolhi. Nem sempre deu certo, mas fui honesta ao fazer minhas escolhas. Respeitei minhas crenças da época.

E isso é garantia de paz, acreditem. Isso traz perdão para qualquer erro de cálculo!

No início da carreira a coisa foi meio automática: dedicação, reconhecimento, promoção. E as coisas foram dando certo. Acumulei sucessos e tolerei algumas insatisfações, como todo mundo.

Aos 26 estava super bem na foto, quando resolvi abrir mão da estabilidade de uma multinacional suíça, da sensação de acolhimento do ambiente conhecido. Aceitei a oferta do mundo das empresas americanas. Foi um choque pra quem me conhecia. Pra mim também!

 

 
Profissional de enorme talento, galgando passos na carreira executiva

Considerei que podia dar errado. E deu! (não performei como devia, a empresa era uma bagunça, saiu do país, não por minha causa lógico!). Não olhei para trás. Não me culpei. Lembro-me até hoje do dia da demissão: fui ao Supermercado Santa Luzia e enchi o carrinho com itens deliciosamente caros. Não sabia quando poderia fazer isso de novo.

Com 30 anos, estava intoxicada pelo mundo corporativo. Era hora de escolher novamente. Ou voltava, ou respeitava meu coração e descansava.

Abri um negócio social. Trabalhei 2 anos nisso e me diverti muito. Mas teve um lado chato, de perder o sobrenome corporativo, o status, encarar os olhos de quem pensava e não dizia: coitada, tinha uma carreira tão promissora!

 

 
Nova fase, mais tranqüila.

Vivi essa rotina até que meu primeiro marido ficou desempregado. Era hora de voltar.
Estava mais fortalecida, sabia exatamente tudo que tinha dado errado com os americanos, tomei a firme decisão de acreditar no meu talento.

E uma porta maravilhosa se abriu através de um currículo desatualizado voando por aí. Fui trabalhar em uma Casa de Fragrâncias suíça (novamente os suíços!), líder mundial em criação de perfumes, com o melhor chefe que alguém poderia ter.

 

 
Chique e elegante, testando fragrâncias

Comecei ganhando bem menos do que ganhava antes, em um cargo inferior. Mas encarei numa boa.
Em pouco tempo me dei bem, gostei do business, das pessoas, do bom gosto deste mercado, aprendi um monte. Logo fui promovida duas vezes, assumindo a área de marketing e pesquisa de mercado da América Latina.

Meu primeiro casamento desmoronou. E trabalhar nesta empresa segurou minha barra de verdade.

Aos poucos me reergui e a vida se reequilibrou.

Até que decidi que já era hora de ser feliz de verdade, de achar meu amor perdido no mundo. Sim, havia alguém muito importante pra mim, com quem um dia havia sonhado estar junto. Bem, esta história conto depois, se vocês quiserem.

Tomei coragem, achei o cara através de um telefone que guardava na memória e o pedi em casamento de surpresa, comendo um nhoque que ficou famoso na nossa história e até hoje vale mais do que um diamante nas nossas comemorações.

A escolha neste caso? Casar com um pai de cinco filhos que moravam com ele. Virar madrasta, educar 3 deles que ainda eram crianças. Assumir que não teria uma vida zero quilômetro construída junto, que herdaria um prato pronto, que minha rotina seria em muito determinada pelo ritmo da família dele. Fui em frente. O cara valia a pena.

 

 
Lívia na nova família. Seguindo o córação

Vivia muito bem. Eis que aos 38 anos o destino me prega uma peça: o medinho de avião cresceu e se transformou em uma fobia incapacitante. Imaginem isso para uma Diretora da América Latina, que viajava todo santo mês pelo mundo afora.
Era hora de escolher. Minha saúde, minha paz de espírito ou a carreira na empresa. Confesso que pela primeira vez deu um branco. Não sabia como resolver o problema. Passava noites em claro pensando em arranjar um emprego em um café charmoso, em uma editora de livros, enfim, viajando em terra sobre meu futuro.
Foi quando meu marido me disse: nada disso. Você tem talento e eu aposto em você. Peça demissão, abra uma consultoria de marketing.

Quando pedi demissão da empresa, de novo ninguém acreditou. Meu chefe chegou a me alertar: Lívia, voltar para um cargo desses, um salário alto assim não será fácil. Eu respondi: se eu achasse que só pudesse ser feliz em um cargo assim e com um salário alto desses não saía nunca daqui. Se saio, é porque acredito que haja felicidade em outros modelos de vida.

E assim foi. Há 8 anos vivo feliz trabalhando em um esquema home office, em projetos em São Paulo, ganhando menos, tendo mais tempo pra mim e pra minha família.

Sim, o casamento deu certo! Há 10 anos estava eu aqui bem feliz ao lado do Percival, meu marido, quando fui escolhida.

 

 
Um presente do Céu: Laurinha chegou!

Nossa filha adotiva, a Laura, chegou. Nos escolhendo para sermos seus pais nesta vida. Nunca, nunca nos meus melhores sonhos houve uma escolha tão bonita.