Tem que abrir mão, sim! – 5

Anahi é daquelas pessoas raras que você tem a alegria de encontrar ao longo do caminho. Para mim foi um prazer não apenas tê-la conhecido, mas também poder ter trabalhado, aprendido e me divertido com ela.

Aqui mais uma linda história de que “Temos que Abrir Mão, Sim!”. História de escolhas profundas que somos “convidadas” a fazer ao longo desta aventura por aqui….
Fez escolhas difíceis, daquelas que a sociedade, a família, o ambiente profissional, os amigos, julgam e questionam, sem perder como ela mesma diz, “a convicção de apenas nao fazer escolhas que levem abrir mão de ser feliz”.

Inspirador, como a Anahi. Não podemos e não devemos, por mais desafiadora que seja a cirscunstância, abrir mão de sermos felizes…. isto sim deve ser também uma escolha…

 

 

Das escolhas conscientes e inconscientes

Não quis ter filhos.

Foi uma escolha. Consciente, bem pensada. E difícil.
Se fosse para ter filhos, queria logo uns 10. Gosto de ver família grande, um monte de irmãos, casa cheia, mesa grande com todo mundo em volta.
 Anahi com os sobrinhos e todos afilhados

Depois que meu irmão deixou esse mundo sem aviso prévio, aos trinta e poucos anos, essa percepção ficou ainda mais forte.  Ele preenchia tantos espaços porque cantava, tocava piano, pandeiro, caixa de fósforo, batucava na mesa… tudo ao mesmo tempo. Quando ele se foi, parecia que a casa estava sempre meio vazia, faltava barulho. O silêncio doía.

Mas não dava mais tempo de ter 10. Então, abri mão. Fiz uma escolha.
O interessante é a reação das pessoas a respeito dessa escolha.
Até os 37 anos:
— Tem filhos?
— Não, não tenho.
— Ah (com um ‘h’ só mesmo), mas ainda pode ter.
— É, posso.
Silêncio…
Depois dos 40 anos:
— Tem filhos?
— Não, não tenho.
— Ahhhhhhhhhhhhh (com muitos ‘h’s mesmo), mas pode adotar.
— É, posso.
Corta. Muda de assunto.
Parece ainda difícil aceitar a decisão de uma mulher que escolheu não ter filhos.
Muitas vezes a pergunta seguinte busca explicar a sua decisão. ‘O trabalho não deixa? Toma todo o seu tempo?’
Não, não foi por causa do trabalho. Abri mão de ter filhos depois de muita reflexão. Eu sempre quis cuidar de muitos. E esses muitos foram aparecendo no meu caminho, me enchendo de amor, me enchendo de preocupação, me fazendo feliz. Mesmo não sendo os ‘meus’ filhos.

 

Anahi (de óculos) com sua companheira de viagem e sobrinha nas horas vagas -Tatiana
Anahi (ao centro de verde) se divertindo
com as amigas num dia de Domingo

E aí fiquei pensando que a vida te leva a abrir mão de muitas coisas, num eterno fazer escolhas.

Algumas decisões mais simples, a gente nem percebe que as tomou. Outras são terríveis, sacrificadas, doem na alma. Mas geralmente são aquelas necessárias para a sobrevivência.
Conscientemente, abri mão de trabalho que eu adorava fazer porque o ambiente se tornara insustentável. De fazer mal. Optei pela minha saúde física e pedi demissão. Sai triste, mas leve. Abri mão de um amor, daqueles avassaladores, pela minha saúde mental. Mudei de emprego, de casa, de cidade, não deixei rastro. Sumi mesmo. Quando dava aquela vontade de voltar atrás, de tentar de novo, me forçava a lembrar do pior. A vontade passava. Depois de um tempo, não queria mais rever aquele filme.
Também acontece de você compulsoriamente ter de abrir mão, não tem escolha. Eu tive que abrir mão de conviver com meu irmão aqui nesse plano terrestre. Trinta e poucos anos depois ele não estava mais por perto, não dava mais para ligar, para comentar alguma coisa por mensagem, para encontrar no fim de semana, para viajar junto, para chorar, para rir, para chorar de rir. Acomodei as lembranças na mente, no coração, e recorro a elas quando a saudade aperta.
Anahi e seu irmão querido – muito parecidos

Pensando sobre as escolhas que o blog das queridas Lilian e Serena me fizeram resgatar lá no fundo, descobri que já abri mão, sim, de muita coisa na vida. Esse resgate, esse me fazer pensar sobre tantas decisões que já tomei na vida também me fez reforçar uma convicção – estarei sempre buscando.

NÃO fazer escolhas que me levem a abrir mão de ser feliz, de estar em paz. Porque de ser feliz… não tem que abrir, não!

A esquerda, tietando Yamandú Costa

 

Anahi (de vermelho) com sua amiga Josie em viagem a Dubai